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Yu Yongding
3 de junho de 2024 às 11:07
Recentemente, diversos economistas têm soado o alarme de que a China está à beira de uma grande crise. O problema, argumentam, é que o crescimento do país é impulsionado por níveis extremamente altos de investimento de capital, e que o consumo privado está muito baixo. Uma crise seria realmente iminente?
É verdade que o padrão de crescimento da China foi movimento, por décadas, pela formação bruta de capital fixo. Como a maioria das economias da Ásia Oriental, o país fomentou o crescimento alavancando sua alta taxa de poupança para manter os investimentos muito altos, e os formuladores de políticas usaram o gasto com infraestrutura como instrumento de política contracíclica.
Em 2009, por exemplo, o governo chinês introduziu um plano de estímulo de CN¥4 trilhões ($560 bilhões), para compensar os efeitos adversos da crise econômica global de 2008. Até o final daquele ano, a taxa de crescimento do investimento na China havia disparado para 30,1%, com o investimento total alcançando 45% do PIB.
Mas a China retirou o estímulo fiscal em 2011, para conter uma bolha imobiliária crescente e mitigar a ameaça de inflação. O crescimento do investimento tem caído constantemente desde então, totalizando apenas 3% no ano passado, e tem sido consistentemente superado pelo crescimento do PIB desde 2017.
Hoje, o consumo doméstico substituiu o investimento como o principal motor do crescimento econômico. O consumo contribuiu com 82,5% para o crescimento do PIB da China no ano passado, enquanto o investimento contribuiu com 28,9%, e as exportações líquidas agiram como um detrator no crescimento (-11,4%).
Pelas minhas próprias contas, o consumo, o investimento e as exportações líquidas representaram 54,7%, 42,8% e 2,5% do PIB, respectivamente, em 2023.
Obviamente, o gasto final de consumo da China é muito menor do que o dos Estados Unidos: 56% do PIB, em comparação com 81,5% do PIB, em 2019. Mas a estrutura de consumo nos dois países é muito diferente: os serviços constituem menos de 50% do consumo final na China, em comparação com dois terços nos EUA.
Além disso, os preços dos serviços são muito mais baixos na China do que nos EUA. Após ajustar a diferença de preço, descobri que, em 2022, o gasto total com bens (incluindo catering) na China foi de 37% do PIB, em comparação com 28% nos EUA.
Em outras palavras, quando se trata de bens, a China consome mais que os EUA, em termos de participação no PIB. Reforçando essa avaliação, a relação entre empréstimos ao consumidor e PIB da China (excluindo hipotecas) foi de 14% em 2022, indicador quase tão alto quanto nos EUA e no Japão.
Há ainda, o setor imobiliário. Nas últimas décadas, as famílias chinesas vêm gastando uma proporção muito grande de suas rendas em compras de imóveis para moradia. Como resultado, a taxa de propriedade de moradia da China hoje está entre as mais altas do mundo. (O espaço por habitante na China também é muito alto.)
Não vejo diferença fundamental entre comprar bens de consumo caros e comprar uma casa para morar, mas o primeiro é contado como consumo e o segundo como investimento. E quando se trata de investimento imobiliário, a taxa da China está entre as mais altas do mundo, de novo como proporção do PIB.
Isso nos leva à taxa de poupança. Os críticos estão certos de que ela permanece alta, mas tendem a superestimar em quanto. É amplamente aceito que a renda disponível das famílias chinesas representou apenas 40% do PIB no ano passado.